segunda-feira, 8 de dezembro de 2014

para ler o livro

acesse o livro grátis aqui

para assistir ao filme

para assistir ao filme clique aqui

Sobre o livro

A Morte e a Morte de Quincas Berro D'Água

  Modernismo - Geração de 30

Resumo

As circunstâncias da morte do funcionário público Joaquim Soares da Cunha são cercadas de mistérios e de versões desencontradas. A família declara que ele morreu de forma decente, mas esconde alguns vexames dos últimos momentos de vida do finado. Já os amigos são capazes de jurar que a morte de Joaquim se deu mesmo no mar, como era seu desejo.
Durante quase toda a sua vida, Joaquim foi funcionário público exemplar, contando com o respeito dos colegas e da família. Aos cinquenta anos, porém, por motivo desconhecido, despediu-se da família com palavras ofensivas e passou a viver na rua. Foram dez anos se  entregando constantemente à bebida em companhia dos malandros e das prostitutas de Salvador, na Bahia. A esposa Otacília não resistiu ao drama familiar e morreu. A filha Vanda e seu marido, Leonardo, passaram a suportar a existência daquele parente incômodo.
Certa ocasião, o dono do botequim frequentado por ele, querendo pregar-lhe uma peça, ao invés da cachaça de sempre encheu um copo com água e ofereceu a ele. Joaquim entornou o líquido e, ao perceber a enganação, lançou o berro que fez surgir seu apelido: Quincas Berro d’Água. 
Joaquim morreu aos sessenta anos de idade. Ao saber, Vanda passou a tomar providências para o velório e o enterro do pai. A única coisa que ela não conseguiu arranjar ao seu modo foi o sorriso que o morto estampava no rosto, que nem sequer os funcionários da funerária conseguiram eliminar.
O velório foi realizado no mesmo cômodo minúsculo que tinha servido de moradia a Quincas nos últimos anos. Desse modo, a família mantinha distância desse parente incômodo. Vanda permaneceu ao lado do corpo do pai durante boa parte da noite em que transcorreu o velório. O sorriso no rosto do morto parecia retomar as ofensas dirigidas à família quando de sua partida de casa. 
A notícia da morte de Quincas chegou aos ouvidos de seus companheiros de boêmia: Curió, Negro Pastinha, Cabo Martim e Pé-de-Vento. Sabedores do desejo do amigo de ter no mar seu último momento, dirigiram-se ao local do velório dispostos a fazer cumprir essa vontade. Cansados, os parentes acabaram por se recolher, deixando o defunto sob a guarda dos amigos.
A vigilância foi regada a muita cachaça. Em certa altura da noite, resolveram levar o amigo para um passeio. Retiraram o morto do caixão e se foram. Passaram pelos lugares frequentados por Quincas em vida e terminaram a noite no barco de Mestre Manuel. Decidiram então cumprir a vontade do morto, oferecendo-lhe uma festa em alto mar.
Repentinamente, despencou um terrível temporal. O mar revolto lançava a embarcação de um lado para o outro. Em um desses balanços, Quincas acabou caindo na água. Desse modo, teve sua segunda morte e o cumprimento de sua vontade. Segundo a lenda, antes de se lançar ao mar ele teria pronunciado os seguintes versos: “– Me enterro como entender / na hora que resolver. / Podem guardar seu caixão / pra melhor ocasião. /Não vou deixar me prender / em cova rasa no chão”.

Contexto

Sobre o autor
Jorge Amado é o representante baiano do chamado neorrealismo nordestino, tendência dominante na literatura brasileira dos anos 1930. Além disso, alinha-se ao realismo socialista, vertente que registrava o real a partir de uma perspectiva ideologicamente comprometida com o marxismo. Em 1958, com a publicação de uma de suas obras mais famosas, Gabriela, cravo e canela, imprimiu um novo rumo à sua carreira, que passou a explorar mais fortemente a sensualidade e o humor. Desse filão faz parte a novela A Morte e a Morte de Quincas Berro d’Água.
Importância do livro            
Por vezes, o esforço dos escritores da geração de 1930 em retratar a realidade de maneira crítica acabava por restringir o espaço da fantasia e da imaginação. Sem abrir mão da perspectiva sociológica, Jorge Amado reservou espaço para o absurdo em algumas de suas narrativas. É o que ocorre em A Morte e a Morte de Quincas Berro d’Água. Como um bom contador de histórias, o narrador desenvolve seu enredo surpreendente, preocupando-se menos em ser verdadeiro e mais em ser verossímil.
Contexto históricoA década de 1950 é a época do desenvolvimentismo de Juscelino Kubitschek, período de particular efervescência cultural. O otimismo dominante na vida social e política brasileira, depois do término da ditadura Vargas em 1945, talvez tenha contribuído para a criação do clima fantástico e cômico da narrativa de A Morte e a Morte de Quincas Berro D’Água.

Análise

É possível inserir A Morte e a Morte de Quincas Berro d’Água na tradição da sátira menipéia, caracterizada pelo contato entre o mundo dos mortos e o dos vivos. De fato, essas duas dimensões dividem aqui o espaço por si só místico da cidade de Salvador. Tudo na narrativa é concebido sob o estigma do duplo, a começar pelo próprio protagonista, que merece duas formas de tratamento distintas: Joaquim Soares da Cunha, funcionário público exemplar e pai de família respeitável, entrega-se à vida boêmia e passa a ser chamado de Quincas Berro d’Água. 
Duas faces da sociedade estão representadas. De um lado, o universo da ordem estabelecida, com o devido enquadramento dos indivíduos em instituições sociais respeitáveis, como a família, o casamento e o trabalho. Esse universo mata Quincas duas vezes: a primeira, quando a filha Vanda cria para os filhos uma versão imaginosa, para explicar o afastamento familiar do pai boêmio; e a segunda, quando, na tentativa de dar solenidade ao seu velório, veste-o de forma condizente com a imagem respeitável que tentavam imprimir a ele. Com isso, mata-se o boêmio e tenta impor o universo da ordem. No entanto, a desordem levanta Quincas até do túmulo.
De outro lado, o universo da desordem, a que Quincas se entrega ao rejeitar a lógica perversa que o envolvia, segundo a qual o casamento, a família e o trabalho deveriam ser sustentados mesmo que conduzissem à infelicidade. Quincas recusa essa lógica até o fim e mesmo além do fim. O sorriso escancarado que exibe em seu caixão faz lembrar o preceito latino que diz ridendo castigat mores, isto é, rindo, ele faz a crítica das normas sociais. E ao fazê-la, mostra que, de certa forma, estas estão mais caquéticas do que ele.
Quincas encontra cúmplices na representação do universo libertário: são seus amigos de boêmia, cujos nomes revelam a mesma duplicidade do protagonista. Com efeito, os apelidos Curió, Negro Pastinha, Cabo Martim e Pé-de-Vento escondem identidades sociais certamente tão convencionais quanto a de Joaquim Soares da Cunha. Quando trocam as roupas do morto, resgatam suas vestes de boêmio, devolvendo-lhe a identidade e, com ela, não a vida, mas a morte, a verdadeira morte de Quincas Berro d’Água.
A narrativa de Jorge Amado está incluída em um volume chamado Os velhos marinheiros. Nada mais apropriado: isto era justamente o que Quincas desejava ser. Se não o conseguiu em vida, afogado nas convenções, alcançou na morte, navegando livre pelo mar. 
Fernando Marcílio
Mestre em Teoria Literária pela Unicamp

Sobre o autor - Jorge Amado um comunista apaixonado pela baianidade


Jorge Amado nasceu a 10 de agosto de 1912, na fazenda Auricídia, no distrito de Ferradas, município de Itabuna, sul do Estado da Bahia. Filho do fazendeiro de cacau João Amado de Faria e de Eulália Leal Amado.
Com um ano de idade, foi para Ilhéus, onde passou a infância. Fez os estudos secundários no Colégio Antônio Vieira e no Ginásio Ipiranga, em Salvador. Neste período, começou a trabalhar em jornais e a participar da vida literária, sendo um dos fundadores da Academia dos Rebeldes.
Publicou seu primeiro romance, O país do carnaval, em 1931. Casou-se em 1933, com Matilde Garcia Rosa, com quem teve uma filha, Lila. Nesse ano publicou seu segundo romance, Cacau.



Formou-se pela Faculdade Nacional de Direito, no Rio de Janeiro, em 1935. Militante comunista, foi obrigado a exilar-se na Argentina e no Uruguai entre 1941 e 1942, período em que fez longa viagem pela América Latina. Ao voltar, em 1944, separou-se de Matilde Garcia Rosa.
Em 1945, foi eleito membro da Assembléia Nacional Constituinte, na legenda do Partido Comunista Brasileiro (PCB), tendo sido o deputado federal mais votado do Estado de São Paulo. Jorge Amado foi o autor da lei, ainda hoje em vigor, que assegura o direito à liberdade de culto religioso. Nesse mesmo ano, casou-se com Zélia Gattai.
Em 1947, ano do nascimento de João Jorge, primeiro filho do casal, o PCB foi declarado ilegal e seus membros perseguidos e presos. Jorge Amado teve que se exilar com a família na França, onde ficou até 1950, quando foi expulso. Em 1949, morreu no Rio de Janeiro sua filha Lila. Entre 1950 e 1952, viveu em Praga, onde nasceu sua filha Paloma.
De volta ao Brasil, Jorge Amado afastou-se, em 1955, da militância política, sem, no entanto, deixar os quadros do Partido Comunista. Dedicou-se, a partir de então, inteiramente à literatura. Foi eleito, em 6 de abril de 1961, para a cadeira de número 23, da Academia Brasileira de Letras, que tem por patrono José de Alencar e por primeiro ocupante Machado de Assis.
A obra literária de Jorge Amado conheceu inúmeras adaptações para cinema, teatro e televisão, além de ter sido tema de escolas de samba em várias partes do Brasil. Seus livros foram traduzidos para 49 idiomas, existindo também exemplares em braile e em formato de audiolivro.
Jorge Amado morreu em Salvador, no dia 6 de agosto de 2001. Foi cremado conforme seu desejo, e suas cinzas foram enterradas no jardim de sua residência na Rua Alagoinhas, no dia em que completaria 89 anos.
A obra de Jorge Amado mereceu diversos prêmios nacionais e internacionais, entre os quais destacam-se: Stalin da Paz (União Soviética, 1951), Latinidade (França, 1971), Nonino (Itália, 1982), Dimitrov (Bulgária, 1989), Pablo Neruda (Rússia, 1989), Etruria de Literatura (Itália, 1989), Cino Del Duca (França, 1990), Mediterrâneo (Itália, 1990), Vitaliano Brancatti (Itália, 1995), Luis de Camões (Brasil, Portugal, 1995), Jabuti (Brasil, 1959, 1995) e Ministério da Cultura (Brasil, 1997).
Recebeu títulos de Comendador e de Grande Oficial, nas ordens da Venezuela, França, Espanha, Portugal, Chile e Argentina; além de ter sido feito Doutor Honoris Causa em 10 universidades, no Brasil, na Itália, na França, em Portugal e em Israel. O título de Doutor pela Sorbonne, na França, foi o último que recebeu pessoalmente, em 1998, em sua última viagem a Paris, quando já estava doente.
Jorge Amado orgulhava-se do título de Obá, posto civil que exercia no Ilê Axé Opô Afonjá, na Bahia.
Em 1945, foi eleito membro da Assembléia Nacional Constituinte, na legenda do Partido Comunista Brasileiro (PCB), tendo sido o deputado federal mais votado do Estado de São Paulo. Jorge Amado foi o autor da lei, ainda hoje em vigor, que assegura o direito à liberdade de culto religioso. Nesse mesmo ano, casou-se com Zélia Gattai.
Em 1947, ano do nascimento de João Jorge, primeiro filho do casal, o PCB foi declarado ilegal e seus membros perseguidos e presos. Jorge Amado teve que se exilar com a família na França, onde ficou até 1950, quando foi expulso. Em 1949, morreu no Rio de Janeiro sua filha Lila. Entre 1950 e 1952, viveu em Praga, onde nasceu sua filha Paloma.
De volta ao Brasil, Jorge Amado afastou-se, em 1955, da militância política, sem, no entanto, deixar os quadros do Partido Comunista. Dedicou-se, a partir de então, inteiramente à literatura. Foi eleito, em 6 de abril de 1961, para a cadeira de número 23, da Academia Brasileira de Letras, que tem por patrono José de Alencar e por primeiro ocupante Machado de Assis.
A obra literária de Jorge Amado conheceu inúmeras adaptações para cinema, teatro e televisão, além de ter sido tema de escolas de samba em várias partes do Brasil. Seus livros foram traduzidos para 49 idiomas, existindo também exemplares em braile e em formato de audiolivro.
Jorge Amado morreu em Salvador, no dia 6 de agosto de 2001. Foi cremado conforme seu desejo, e suas cinzas foram enterradas no jardim de sua residência na Rua Alagoinhas, no dia em que completaria 89 anos.
A obra de Jorge Amado mereceu diversos prêmios nacionais e internacionais, entre os quais destacam-se: Stalin da Paz (União Soviética, 1951), Latinidade (França, 1971), Nonino (Itália, 1982), Dimitrov (Bulgária, 1989), Pablo Neruda (Rússia, 1989), Etruria de Literatura (Itália, 1989), Cino Del Duca (França, 1990), Mediterrâneo (Itália, 1990), Vitaliano Brancatti (Itália, 1995), Luis de Camões (Brasil, Portugal, 1995), Jabuti (Brasil, 1959, 1995) e Ministério da Cultura (Brasil, 1997).
Recebeu títulos de Comendador e de Grande Oficial, nas ordens da Venezuela, França, Espanha, Portugal, Chile e Argentina; além de ter sido feito Doutor Honoris Causa em 10 universidades, no Brasil, na Itália, na França, em Portugal e em Israel. O título de Doutor pela Sorbonne, na França, foi o último que recebeu pessoalmente, em 1998, em sua última viagem a Paris, quando já estava doente.
Jorge Amado orgulhava-se do título de Obá, posto civil que exercia no Ilê Axé Opô Afonjá, na Bahia.

QUINCAS BERRO D'ÁGUA - cabra difícil de morrer


Quincas Berro Dágua é o personagem de um livro de Jorge Amado : A morte e a morte de Quincas Berro D'água, um bêbado conhecido e querido de sua cidade, que teve uma vida dupla e portanto, também uma dupla morte.
Pai de familia exemplar e funcionário público, ele deixa sua vida para se tornar um boemio inveterado.
Quando ele morre, cada um de seus grupos sociais quer lhe dar uma morte caracteristica:
a familia insiste na morte austera, enquanto os amigos de boemia lhe proporcionam uma morte no mar. Assim, Quincas é um homem que teve a rara oportunidade de morrer duas vezes.
A história engraçada, que ridiculariza a dubiedade da moral baiana, já teve traduçoes para dezenas de linguas e foi vertida para várias versoes em filme e série.